LUCIANA BARRETO
(BRASIL – DISTRITO FEDERAL)
Brasília
é poeta, jornalista, resenhista, ensaísta e vem atuando
como professora de Teoria Literária e de Literaturas
Brasileira e Portuguesa na Universidade de Brasília —
com Mestrado e Doutorado pela mesma instituição.
Tem poemas publicados em Mallamargens, Gueto, Germina,
Ruído Manifesto, Traços e Escrita Droide, além de integrar
algumas antologias, a exemplos de As mulheres na literatura brasileira (Ed. Arribaçã), Tempos adversos
(ArtLetras) e Quando os peixes voam (Lumme Editor).
Organizou a coletânea No meio do fim do mundo —
89 poetas hoje ), em 2023.
O seu livro solo — Nunca é casto o fio do poema — está
em fase final de edição.
Em 2022, esteve na cidade de Paraty, Rio de Janeiro,
onde recebeu a distinção de menção honrosa na premiação
OFF FLIP de Poesia, em 2023, ficou entre os finalistas.
Também já atuou como jurada em prêmio de poesia.
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DANIEL, Claudio. NOVAS VOZES DA POESIA
BRASILEIRA. Uma antologia crítica. Capa: Thiti
Johnson. Cajazeiras: Arribação, 258 p.
ISBN 978-85-6036-3333365-6
PALAVRA
De sua haste madura
— fruto desprendido —
a palavra guarda
a espera que se cumpre
a colheita inevitável
ao sol impossível
do meio-dia
a palavra se abre
por vezes, líquida
— irresistível
por outra, pétrea
— impenetrável
palavra
palavra
ora escapa
erodida
gasta
ora explode
florescida
refeita
[e nada apaga o papiro]
palavra-ave-palavra
guardiã do tempo
abrigo dos homens
cornucópia
de mais
e mais
e mais
O MENINO, O POETA, A LUA
Para Angela Lins
O que pode um poeta
senão o gesto largo
o olhar desprendido
a partida precoce
O que responde o poeta
ao mirar a cisterna
descer as tarrafas
entrever o nome
e perseguir a imagem
(perdida, impossível)
O que perde o poeta
no rigor da recusa
no esquadro de aço
na palavra facetada
O que alcança o poeta
ao inverter o ponteiro
sopesar o mundo
esplender o vitral
O que resta ao poeta
sendo a falta
o susto
o salto
e sempre (sempre)
as meninas do Recife
as malhas da busca
o livro iluminado
o jardim suspenso
Pois na travessa insone
— deserto de mil sóis —
por entre flores incendiadas
e margens flutuantes
o menino beduíno
para trás volta seu rosto
— e ri (grave, travesso)
com seus olhos claros
Em suas mãos
o lírio arrancado
o pássaro benévolo
a lua próxima
e — por fim —
ante o retrato ainda vazio
o pedido dos homens:
a palavra em júbilo, o canto antigo
a maçã há tanto intocada.
CONCHA
Nem sempre a palavra comparece
e ser verte em poesia
: melancólica toada.
Por vezes, esconde-se silente
faz-se recôndita
— grave —
guardadora de sustos
e mundos.
Nem sempre a palavra nos habita
em seu frêmito irrequieto
: incontido.
Por vezes, ancestral, vela seu sono
em torres de sal-luas-areia
e ali mesmo se confunde
— e se refaz —
naquele abraço vibrátil de mar.
Nem sempre a palavra pode ser dita
mas — de todo modo — inscreve-se
e impossível (imemorial)
rasura seu grifo
em sua pele de pedra
em seu mamilo de flor.
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AÍ É QUE SÃO ELAS II – Poesia feminina atual. Organização: José Luz do
Nascimento Sóter. Brasília, DF: SEMIM Edições, 2024. 183 p.
ISBN 978-65-980743-5-7
Exemplar da biblioteca de Salomão Sousa.
INTERLÚDIO, OPUS 1
Para Thomaz Abreu
sob teus mil dedos
(notas aéreas noturnas)
ventos outros avançam
dentro
sob esta quase-lua
a chuva súbita
a bebida blue
o desorbitar do corpo
arrastam a cena
e a não-imagem ocupa
o centro
no topo do mundo
além dos homens e estrelas
— à beira de nós
— à beira do nada
: pássaro antigo prepara
o mergulho
INTERLÚDIO, OPUS 2
dentro de um segredo
o rio corre sempiterno
a palavra desliza
incensurada
e cada fio (outrora) ordenado
desata — uma a uma —
as margens da alegria
dentro de um amor
o tempo-instante rebenta
o nunca
pula cercas
desprende pirilampos
acende estrelas
e o estão de infância
refaz-se
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IMPORTANTE
NO livro AÍ É QUE SÃO ELAS II estão outros poemas de
LUCIANA BARRETO e de outras escritoras!!!
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VEJA e LEIA outros poetas de BRASILIA – DF em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/distrito_federal.html
Página publicada em novembro de 2024.
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VEJA e LEIA outros poetas do DISTRITO FEDERAL (Brasília) em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/distrito_federal.html
Página publicada em outubro de 2024
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